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Sangue e água – Enciclopédia Internacional da Bíblia Padrão

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Sangue e água

O notável trecho (João 19.34) do qual esta expressão é retirada refere-se à perfuração do lado do Salvador pelo soldado. O evangelista observa aqui o que ele, como testemunha ocular da crucificação, viu como um fato surpreendente.

As bases para esta surpresa não podem mais ser adivinhadas. Também não é necessário aqui discutir a razão ou razões pelas quais o apóstolo menciona o fato em seu relatório, seja apenas pela precisão histórica e completude, ou como uma possível prova da morte real de Cristo, que em data precoce tornou-se um assunto de dúvida entre certas seitas cristãs, ou se por isso ele desejava referir-se à relação mística da limpeza batismal (“água”) e expiação (“sangue”) assim indicados.

Basta dizer que uma referência muitas vezes feita a 1 João 5.6,8 aqui é completamente fora de lugar. Este trecho, embora usado por certos Pais da igreja como prova da última doutrina nomeada, não se refere realmente a este maravilhoso incidente da história da crucificação.

O argumento de 1 João 5.8 diz respeito à messianidade de Jesus, que é comprovada por uma tríplice testemunha, pois Ele é aquele a quem no batismo de João (“água”) Deus atestou como o Messias pela voz celestial, “Este é meu Filho amado”, que na crucificação (“sangue”) teve o testemunho de que o Pai aceitou Seu sacrifício expiatório, e cuja promessa de enviar o Consolador cumprida no Pentecostes (“espírito”) nos apresentou a prova final da tarefa messiânica concluída.

A mesma expressão em 1 João 5.6 refere-se provavelmente ao mesmo argumento com o significado implícito de que Jesus veio não somente pela água cerimonial do batismo, mas também pelo sangue de expiação, mais importante porque vivificante.

O aspecto fisiológico deste incidente da crucificação foi primeiramente discutido por Gruner (Commentatio de morte Jesu Christi vera, Halle – 1 João 1805), que mostrou que o sangue liberado pelo golpe da lança do soldado deve ter sido extravasado antes da abertura do lado ocorrer, pois só assim ele poderia ter sido derramado da maneira descrita.

Embora um número de comentaristas tenha se oposto a essa visão como uma explicação fantasiosa, e tenha preferido dar à declaração do evangelista um significado simbólico no sentido das doutrinas do batismo e da eucaristia (assim Baur, Strauss, Reuss e outros), alguns fisiologistas modernos estão convencidos de que neste trecho um fenômeno maravilhoso nos é relatado, que, inexplicável ao historiador sagrado, contém para nós uma quase certeza da causa real da morte do Salvador.

Dr. Stroud (On the Physiological Cause of the Death of Christ, Londres – 1 João 1847), baseando seus comentários em numerosas autópsias, pronunciou a opinião de que aqui tínhamos uma prova de que a morte de Cristo não se devia aos efeitos da crucificação, mas à “laceracão ou ruptura do coracão” como consequência de suprema angústia e sofrimento mental.

Está bem atestado que o sofrimento na cruz era geralmente muito prolongado. Frequentemente durava dois ou três dias, quando a morte sobreviria por exaustão. Não havia razões físicas pelas quais Cristo não deveria ter vivido muito mais tempo na cruz do que Ele viveu.

Por outro lado, a morte causada por laceracão do coracão como consequência de grande sofrimento mental seria quase instantânea. Neste caso, a frase “de coracão partido” se torna literalmente verdadeira.

O sangue vital fluindo através da abertura ou laceracão para o pericárdio ou capa do coracão, sendo extravasado, logo coagula no coágulo vermelho (sangue) e no soro límpido (água). Esta acumulação no saco cardíaco foi liberada pelo golpe da lança do soldado (que aqui toma providencialmente o lugar de uma autópsia sem a qual seria impossível determinar a causa real da morte), e da ferida escancarada fluem as duas partes componentes do sangue distintamente visíveis.

Vários médicos distinguidos aceitaram o argumento do Dr. Stroud, e alguns fortaleceram-no pela observacão de sintomas adicionais. Podemos mencionar o Dr. James Begbie, colega e ex-presidente do Royal College of Physicians of Edinburgh, Sir J.

Y. Simpson, professor na Universidade de Edimburgo, e outros. O último se refere ao grito alto, mencionado pelos Sinóticos (Mateus 27.50; Marcos 15.37; Lucas 23.46), que precedeu a morte atual de Jesus, como um sintoma característico de casos de “coracão partido”.

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Ele acrescenta que o Dr. Walshe, professor de medicina no University College, Londres, uma das maiores autoridades sobre doenças do coração, diz que um “grito penetrante” é sempre emitido em tais casos imediatamente antes do fim.

Enquanto nunca podemos alcançar um estado de certeza absoluta sobre este assunto, não há razão válida para negar a probabilidade dessa visão da morte de Cristo. Certamente dá uma visão mais solene sobre a angústia espiritual de Cristo, “o trabalho de sua alma” por nossa causa, que pesou tanto sobre Ele que muito antes do termo usual do sofrimento corporal e, portanto, suportável de pessoas crucificadas, o coracão amoroso de Cristo se partiu, realizando o grande sacrifício expiatório por toda a humanidade.

H.L.E. Luering

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