Corpo – Dicionário Evangélico de Teologia Bíblica de Baker
Corpo
Antigo Testamento. A doutrina da criação estabelece a corporeidade essencial da existência humana. Quando Deus criou Adão e Eva, ele lhes deu corpos físicos (Gênesis 2.7; Gênesis 2.22). O fato de que Deus formou o corpo físico primeiro e então soprou nele o sopro de vida significa que somos corpos vivos, não simplesmente almas encarnadas.
Essa relação holística entre corpo e alma mina qualquer pensamento de que um ser humano é simplesmente a soma de suas partes (ou seja, mente + alma + corpo, etc.). Não se tem um corpo, se é um corpo.
A existência corporal não é apenas um aspecto essencial do ser humano, é também a perfeita vontade de Deus. No começo, Deus pronuncia que toda a sua criação é “muito boa” (Gênesis 1.31). Então ser verdadeiramente humano é existir corporalmente.
Essa afirmação divina da existência física é diametralmente oposta a qualquer noção de que o corpo é inferior ao espírito. Ao contrário dos gnósticos dos séculos II e III d. C., as Escrituras nunca representam o corpo físico como uma prisão da qual o espírito deve ser libertado.
Não há absolutamente nada inerentemente mau sobre o corpo humano. Em todo o Antigo Testamento, o corpo é apresentado como um presente maravilhoso de Deus, que evidencia sua indescritível sabedoria e poder (Salmos 139.14-16).
Nunca é representado como um impedimento à comunhão, serviço ou adoração a Deus. Antes da queda, Adão e Eva tinham uma comunhão perfeita com Deus, e essa comunhão era vivida no corpo (Gênesis 1.27-31).
Esta integração de corpo e alma constitui uma dinâmica interna verdadeiramente notável. O corpo se torna a expressão da alma. A voz articula a oração, as mãos levantadas expressam louvor, inclinar-se reflete adoração e culto humilde.
Essa relação essencial de corpo e alma proporciona uma extraordinária integração dos reinos material e espiritual. Por exemplo, o pecado de Adão e Eva não só afetou seu status espiritual diante de Deus, como também teve consequências físicas.
Eles morreram e a terra da qual o corpo foi formado foi amaldiçoada (Gênesis 2.17; Gênesis 3.17-19). Quanto à disposição final do corpo, o princípio de “pó ao pó” se mantém verdadeiro (Gênesis 3.19; João 10.9; Salmos 104.29; Eclesiastes 3.20; Eclesiastes 12.7).
O corpo é dobrado como uma tenda e retorna à terra de onde veio (Salmos 146.4; Isaías 38.12). Jó declara que apesar da decomposição natural de seu corpo, ele verá Deus com seus próprios olhos, em sua própria carne (João 19.26-27).
O salmista se alegra que Deus não permitirá que o seu Santo veja corrupção (Salmos 16.10). Isaías fala da terra expelindo os mortos e Daniel profetiza que aqueles que dormem no pó despertarão (Isaías 26.19; Daniel 12.2).
Durante o período intertestamentário, a crença na futura ressurreição e glorificação do corpo tornou-se ainda mais desenvolvida.
Novo Testamento A corporeidade essencial da existência humana é supremamente posta em evidência no Novo Testamento. A encarnação é o endosso definitivo de Deus ao corpo físico (Mateus 1.20-25; Lucas 1.26-35; Romanos 1.3; Gálatas 4.4; 1 Timóteo 3.16; 1 João 4.2-3).
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A completa redenção significa a reivindicação da humanidade no sentido mais abrangente, e isso exige a “encarnação” da Palavra (João 1.14). O corpo de Jesus torna-se o local para a atividade redentora de Deus no mundo.
De fato, seu corpo é tanto templo quanto sacrifício, pois manifesta a glória de Deus e expia pelos pecados do mundo (Marcos 14.22; Lucas 22.19; João 1.14; João 2.21; Romanos 3.24-25; Hebreus 9.14; 1 Pedro 2.19; 1 Pedro 2.24).
A ressurreição física de seu corpo não serviu apenas como o “amém” do Pai à vida e ministério de Jesus, mas também como uma espécie de “primícias” da ressurreição de todos os crentes (1 Coríntios 15.20-23).
Os corpos dos regenerados são também a arena da fé e da prática. A lealdade primária do corpo não é para com as coisas deste mundo ou para com os desejos pecaminosos da carne (Rom 6:12-23). Pelo contrário, o corpo é do Senhor e o Senhor deve ser glorificado no corpo (1 Coríntios 6.13; 1 Coríntios 6.20).
O corpo é o templo do Espírito Santo (1 Coríntios 6.19). Através da habitação do Espírito, o corpo torna-se o local de expressão do reino na presente era. Esta presença especial de Deus constitui uma comunidade de fé cuja identidade não pode ser confinada a este mundo.
Em um sentido muito real, a igreja é o corpo de Cristo (Rom 12:4-5; 1 Cor 6:1 – 1 Coríntios 12.12-31; Efésios 4.4-13).
Todas essas coisas são uma realização proleptica de uma glória maior ainda por vir. Na segunda vinda, todos em Cristo receberão um corpo glorificado projetado para existir em um domínio celestial (1 Coríntios 15 2 Cor 5:1-5; Filipenses 3.21; 1 Tessalonicenses 4.13-18).
Assim como a queda de Adão trouxe uma maldição sobre a terra, a ressurreição do corpo tem consequências de proporções cósmicas. A redenção dos nossos corpos inaugura a libertação de toda a criação, rompendo para sempre o cativeiro do sofrimento e da morte (Rom 8:18-25).
William A. Simmons
Elwell, Walter A. “Entry for ‘Body’”. “Evangelical Dictionary of Theology”. 1997.
Corpo – Enciclopédia Internacional da Bíblia Padrão
Corpo
I. FILOLÓGICO:
De uma maneira geral, a linguagem do Antigo Testamento não emprega um termo fixo para o corpo humano como um organismo inteiro em oposição exata à “alma” ou “espírito”. Vários termos eram utilizados, cada um dos quais denota apenas uma parte ou elemento da natureza física, tais como “tronco”, “ossos”, “ventre”, “entranhas”, “rins”, “carne”, estas partes sendo usadas, por sinédoque, para o todo:
etsem = “osso”, ou “esqueleto”, logo, “corpo”, é encontrado em Êxodo 24.10; Lamentações 4.7; nephesh = “organismo vivo” (Levítico 21.11; Números 6.6,7,1 – Números 19.11,13,16; Ageu 2.13); nebhelah = “uma coisa flácida”, “carcaça” (Deuteronômio 21.23; Isaías 26.19; Jeremias 26.2 – Jeremias 36.30); beTen = “ventre” (Deuteronômio 28.4,11,18,5 – Deuteronômio 30.9; João 19.17; Salmos 132.11; Miquéias 6.7); yarekh = “coxa”, “partes geradoras”, “corpo” (Juízes 8.30); gewiyah = “um corpo, vivo ou morto” (1 Samuel 31.10,12; 2 Reis 8.5; Daniel 10.6); me`im = “corpo” (Cânticos de Salomão 5:14); guphah = “cadáver” (1 Crônicas 10.12); gewah = “as costas”, i.
e. (por extensão) “pessoa” (João 20.25); she’er = “carne, enquanto vivente ou para alimentação”, “corpo” (Ezequiel 10.12); geshem = “uma forte chuva” logo, “um corpo” (Daniel 4.3 – Daniel 5.21 – Daniel 7.11); nidhneh = “uma bainha”, logo, o receptáculo da alma, “corpo” (Daniel 7.15).
O termo grego que é usado quase que exclusivamente para “corpo” no Novo Testamento é soma, Latim corpus (Mateus 5.29,3 – Mateus 6.22,23,25 – Mateus 26.26; João 2.21; Atos 9.40; 1 Coríntios 15.35,37,38,44; Efésios 1.2 – Efésios 2.16 – Efésios 4.4,12,16 – Efésios 5.23,30).
chros, significando primeiramente a “superfície” ou “pele”, ocorre em Atos 19.12. A palavra composta com soma como sua base, sussomos = “membro do mesmo corpo”, ocorre em Efésios 3.6. A partir disso, parece que o Novo Testamento coloca o corpo como um todo em oposição ao espírito ou à natureza invisível.
Paulo, certamente, utiliza o termo também para designar a substância sublimada com a qual seremos revestidos após a ressurreição quando ele fala do “corpo espiritual” (1 Coríntios 15.44).
Frank E. Hirsch
II. GERAL:
1. No Antigo Testamento:
soma, Latim corpus:
O termo “corpo” não é encontrado no hebraico do Antigo Testamento no sentido em que ocorre no grego “A palavra hebraica para ‘corpo’ é gewiyah, que às vezes é usada para o ‘corpo vivo’ (Ezequiel 1.11), ‘corpos dos querubins’ (Gênesis 47.18; Neemias 9.37), mas geralmente para o corpo morto ou carcaça.
Devidamente falando, o hebraico não tem um termo para ‘corpo’. O termo hebraico ao redor do qual questões relativas ao corpo devem se reunir é carne” (Davidson, Teologia do Antigo Testamento – Neemias 188). Vários termos são usados no Antigo Testamento para indicar determinados elementos ou componentes do corpo, tais como “carne”, “ossos”, “entranhas”, “ventre”, etc., alguns dos quais receberam um novo significado no Novo Testamento.
Assim o “ventre” do Antigo Testamento (hebraico beTen, grego koilia), “Nossa alma está abatida até o pó; nosso ventre se apega à terra” (Salmos 44.25)—como o assento do apetite carnal—tem seu correspondente no Novo Testamento: “Eles servem ….
o próprio ventre” (Romanos 16.18). Da mesma forma a palavra traduzida “entranhas” (meim, rachamim) no sentido de compaixão, como em Jeremias 31.20, Versão do Rei James: “Portanto minhas entranhas estão conturbadas por ele,” é encontrada em mais de um lugar no Novo Testamento.
Assim em Filipenses 1.8, Versão do Rei James, “Eu anseio por vocês todos nas entranhas (splagchna) de Cristo,” e novamente, “se houver algum afeto (splagchna) e misericórdias” (Filipenses 2.1).
2. No Novo Testamento:
“Corpo” no Novo Testamento é largamente usado em um sentido figurativo, seja indicando o “homem inteiro” (Romanos 6.12; Hebreus 10.5), ou como aquilo que é moralmente corrupto—”o corpo desta morte” (Romanos 6 – Romanos 7.24).
Daí, a expressão, “castigo o meu corpo” (1 Coríntios 9.27, hupopiazo, uma palavra adotada do anel de prêmio, palaestra), o corpo sendo considerado como o lugar oculto e instrumento do mal. (Compare Romanos 8.13 Versão do Rei James “Mortificai as obras do corpo.”)
3. Outros Significados:
Entre estes dois os vários outros significados parecem variar. De um lado encontramos a igreja chamada “o corpo de Cristo” (Efésios 4.16; 1 Coríntios 12.13), com diversidade de dons, desfrutando a “unidade do Espírito no vínculo da paz”.
Por outro lado lemos sobre um corpo espiritual, incorruptível, um corpo de ressurreição em oposição ao corpo natural, que está destinado à corrupção na morte (1 Coríntios 15.44). Não só encontramos esses significados na própria palavra, mas também em algumas de suas combinações.
De um lado lemos em Efésios 3.6 dos gentios como “co-participantes da promessa em Cristo” como “co-herdeiros”, e “do mesmo corpo” (sussoma) em união corporativa com todos que confiam no Redentor da humanidade; por outro, lemos sobre meros “exercícios corporais (somatic)”, que não são lucrativos. (1 Timóteo 4.8)—onde “corpo” evidentemente é contrastado com “espírito”.
E novamente, lemos do Santo Espírito descendo em “forma corporal” (somatic) sobre o “Filho de Deus” (Lucas 3.22), em quem habitava a “plenitude da Divindade corporalmente” (somatically) (Colossenses 2.9).
Também, o “corpo” é chamado um templo do Santo Espírito:
“Não sabeis que o corpo de vocês é templo do Espírito Santo?” (1 Coríntios 6.19).
4. O Corpo e o Pecado:
Disto tudo fica aparente que o corpo em si mesmo não é necessariamente mal, uma doutrina que é ensinada na filosofia Grega, mas em nenhum lugar no Antigo Testamento ou no Novo Testamento. O dualismo rígido e severo encontrado em Platão está ausente dos escritos de Paulo, e é totalmente estranho a todas as Escrituras.
Aqui somos distintamente instruídos, por um lado, que o corpo é subordinado à alma, mas por outro, com igual clareza, que o corpo humano possui uma dignidade, originalmente conferida a ele pelo Criador, que o formou da terra, e glorificou-o pela encarnação de Cristo, o sem pecado, embora nascido de uma mulher.
Julius Müller disse bem:
“Paulo nega a presença do mal em Cristo, que participava da nossa natureza carnal (Gálatas 4.4), e reconhece isso em espíritos que não são participantes disso (Efésios 6.12 na versão King James, ‘maldade espiritual em lugares altos’).
Não é, portanto, altamente provável que segundo ele o mal não pertence necessariamente à natureza sensível do homem, e que sarx (diga-se corpo) denote algo diferente disto?” (A Doutrina Cristã do Pecado, I – Efésios 321 edição em inglês).
Ele ainda mostra que a derivação do pecado do sentido é totalmente irreconciliável com o princípio central da doutrina do apóstolo quanto à absoluta santidade do Redentor, e que “a doutrina da ressurreição futura — mesmo levando em conta a distinção entre o soma psuchikon e o soma pneumatikon (1 Coríntios 15.44) — está claramente em desacordo com a doutrina de que o pecado surge da natureza corporal como sua fonte” (318).
5. O Primeiro Pecado:
O primeiro pecado foi espiritual em sua origem — um ato de rebelião contra Deus — a vontade da criatura em oposição à vontade do Criador (Gênesis 3). Foi concebido na dúvida — “Deus realmente disse?”; nasceu no desejo — “A árvore era boa para comida”; foi estimulado por um anseio rebelde pela igualdade com Deus:
“Vocês serão como Deus, conhecendo o bem e o mal”; foi introduzido de fora, do mundo espiritual, através da agência de um ser misterioso e sobrenatural, empregando “uma besta do campo mais astuta que qualquer uma que Yahweh Deus havia feito”.
Que a serpente no Antigo Testamento não é identificada com Satanás, e que a declaração mais clara nos tempos pré-cristãos sobre o assunto pode ser encontrada no Livro da Sabedoria de Salomão 2:24 (“pela inveja do diabo a morte entrou no mundo”), pode ser verdade.
Que a narrativa da Queda é figurativa ou simbólica também pode ser concedida. Mas toda a tendência da narrativa inicial é conectar o primeiro pecado humano com um ser super-humano, empregando um agente conhecido pelo homem, e fazendo esse agente seu representante na “astúcia” da grande tentação como prelúdio para a grandiosa queda.
O Novo Testamento é claro neste ponto (João 8.4 – João 16.11; 2 Coríntios 11.3; 1 Timóteo 2.14; Hebreus 2.14; Apocalipse 12.9). Grandes verdades históricas estão imersas naquela narrativa, seja lá o que pensarmos da forma que essa narrativa assumiu.
Não se pode negar que as mais antigas e verídicas tradições da raça humana estão ali. Não se nega que o pecado tenha profanado o templo do Deus vivo, que é o corpo. De fato, esse corpo tornou-se contaminado e poluído pelo pecado.
Paulo reconhece “um desenvolvimento anormal do sensorial no homem caído, e vê o pecado como tendo se entrincheirado de maneira especial no corpo, que se torna passível de morte por essa mesma razão” (Romanos 6.2 – Romanos 7.24) (Enciclopédia de Religião e Ética, I – Romanos 761).
Mas podemos dizer com segurança que a teoria que conecta o pecado ao corpo físico, e lhe dá uma origem puramente sensível, é alheia a todo o espírito e letra da revelação.
J. I. Marais
III. FIGURADO:
No Novo Testamento (soma, “o corpo” tanto de homens quanto de animais) a palavra tem um rico uso figurativo e espiritual:
(1) a morada temporária da alma (2 Coríntios 5.6);
(2) “o templo do Espírito Santo” (1 Coríntios 6.19);
(3) “templo” (João 2.21);
(4) “o velho homem”, a carne como serva do pecado ou a esfera na qual o mal moral vem à expressão externa (Romanos 6 – Romanos 7.7; compare o uso de Paulo de sarx, “carne”);
(5) a “igreja” como corpo de Cristo, o organismo através do qual Ele manifesta Sua vida e no qual Seu espírito reside (Efésios 1.23; Colossenses 1.24);
(6) a “unidade” espiritual dos crentes, uma sociedade redimida ou organismo (Efésios 2.16; um corpus mysticum, Efésios 4.4);
(7) “substância” (realidade espiritual ou vida em Cristo) versus “sombra” (Colossenses 2.17);
(8) o corpo ascensionado e glorificado de Jesus (Filipenses 3.21);
(9) o corpo ressurrecto ou “espiritual” (v. natural) dos redimidos no céu (1 Coríntios 15.44);
(10) toda a personalidade, por exemplo, a presença espiritual, poder e trabalho sacrificial de Cristo, o significado místico de “o corpo e o sangue” simbolizados no pão e no cálice do sacramento (1 Coríntios 11.27).
O termo corpo é excepcionalmente rico em conexão com o autoentregar, sacrifício, trabalho expiatório de Cristo. Foi a esfera exterior ou manifestação de Seu sofrimento. Através do físico Ele revelou a extensão de Seu amor redentor e sacrificial.
Ele “levou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro” (1 Pedro 2.24), assim deslocando para sempre todos os incessantes e custosos sacrifícios da antiga dispensação (Hebreus 9.24-28). Termos especiais, “corpo de sua carne” (Colossenses 1.22); “corpo do pecado” (Romanos 6.6); “corpo desta morte” (Romanos 7.24); “corpo de sua glória” (Filipenses 3.21).
ptoma, usado apenas de corpos caídos, isto é, mortos (Apocalipse 11.8,9).
Orr, James, M.A., D.D. Editor geral. “Entrada para ‘CORPO’”. “Enciclopédia Internacional da Bíblia Padrão”. 1915.
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