Ileso – Dicionário Evangélico de Teologia Bíblica de Baker

Ileso

O conceito de ileso carrega consigo duas ideias diferentes, mas não dissimilares. A primeira se refere a animais sacrificais que eram “sem defeito” (Levítico 1.3; Levítico 3.1; Levítico 3.6; Números 6.14).

Somente animais que eram fisicamente puros eram dignos de serem oferecidos ao Senhor. Sacrificar animais com defeitos era uma violação da lei bíblica e demonstração de um desrespeito flagrante a Deus (Malaquias 1.6-14).

A partir desta ideia ritualística religiosa surge a noção de perfeição moral para indivíduos. Pessoas “ilesas” são aquelas que não podem ser acusadas de fazer o mal diante das pessoas ou de Deus (Salmos 15 – Salmos 18.23).

Davi ora, “Guarda o teu servo do pecado intencional. Então serei ileso” (Salmos 19.13). Davi está buscando a ilesonidade não em um sentido físico, mas moral.

O conceito de ilesonidade moral é intensificado no Novo Testamento e empregado quase exclusivamente como uma característica de Cristo e seus seguidores. A terminologia sacrificial é aplicada à obra de Jesus Cristo quando ele é descrito como “um cordeiro sem mancha ou defeito” (1 Pedro 1.19), quem “através do Espírito Eterno se ofereceu imaculado a Deus” (Hebreus 9.14).

O personagem ileso de Cristo é visto em seu trabalho contínuo como sumo sacerdote dos crentes que “atende nossa necessidade — ele que é santo, ileso, puro, separado dos pecadores, exaltado acima dos céus” (Hebreus 7.26).

Quando aplicado aos cristãos, a qualidade de ilesonidade é tanto um benefício posicional da salvação quanto um caráter moral a ser alcançado. Cada pessoa é digna de acusação aos olhos de Deus. O caráter ileso dos cristãos, no entanto, é a intenção de Deus, que “nos escolheu nele antes da criação do mundo para sermos santos e íntegros em sua presença” (Efésios 1.4).

O amor de Cristo e seu sacrifício pela igreja foram tais que pôde apresentá-la a si mesmo “sem manchas ou rugas ou qualquer coisa assim, mas santa e ilibada” (Efésios 5.27).

Essa qualidade posicional de ilesonidade não é conquistada por ganho pessoal, mas creditada pela morte e ressurreição de Cristo (Colossenses 1.22). O poder de Deus e a proteção garantem que o crente mantenha um status ileso até o julgamento final (1 Coríntios 1.8; Judas 24).

Nestas ocorrências, a conotação legal da libertação de acusação é claramente vista. Somente Deus tem o poder e direito de acusar o crente e pronunciar condenação, mas através de sua graça e poder ele torna o crente ileso aos Seus olhos.

À luz da realidade posicional, o crente é chamado a viver de maneira a alcançar a qualidade de ilesonidade. Nestes casos, está evidente que ilesonidade se refere ao respeito público como um subproduto do caráter moral privado.

Cristãos devem “fazer todo esforço para serem encontrados sem manchas, ilibados e em paz com ele” (2 Pedro 3.14). Ao crescer em discernimento e evitar um espírito crítico, os crentes podem se tornar “puros e inculpáveis” numa era marcada pela maldade (Filipenses 1.1 – Filipenses 2.14-15).

A importância de um caráter ileso para a igreja é vista nas qualificações para líderes eclesiásticos que devem ser irrepreensíveis e acima de qualquer censura (1 Timóteo 3.10; Tito 1.6). As Escrituras definem mais adiante a esfera do comportamento ileso cristão incluindo serviço piedoso (Tiago 1.27) e leito matrimonial (Hebreus 13.4).

A característica de ilesonidade deve então definir a vida privada e pública do crente como um reflexo do trabalho transformador da graça de Deus na salvação.

William E. Brown

Bibliografia. R. Earle, Palavras Significados no Novo Testamento; W. E. Vine, M. F. Unger, e W. White Jr., Dicionário Expositivo de Palavras Bíblicas de Vine.