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Ética de Jesus: Dicionário Bíblico e versículos na Bíblia

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Ética de Jesus – Enciclopédia Internacional da Bíblia Padrão

Ética de Jesus

Ética:

Conteúdo – I. NOS EVANGELHOS SINÓPTICOS

1. As Bênçãos do Reino (1) Natureza do Reino (2) Bem-aventurança do Reino (3) Justiça–Seus Contrastes (4) Teorias Apocalípticas

2. O Caráter dos Sujeitos do Reino (1) Condição de Entrada (2) Atitude de Cristo em Relação ao Pecado (3) Alcance da Justiça (a) Arrependimento (b) Fé “Vindo” a Cristo (c) Imitação de Cristo–Exemplo de Serviço de Jesus

3. Mandamentos do Rei Os Grandes Mandamentos (a) Amor a Deus Adoração a Deus, etc. A Igreja (b) Dever para com o Homem Exemplificado em Cristo Os Novos Motivos

II. NO QUARTO EVANGELHO

1. Vida Eterna 2. Sua Fonte em Deus 3. Através do Filho 4. Necessidade de Novo Nascimento 5. Natureza da Fé 6. Frutos da União com Cristo + LITERATURA

I. Nos Evangelhos Sinópticos.

Se, seguindo o costume prevalente atualmente, adotarmos, como nome geral para o ensino de Jesus nos Sinópticos, o Reino de Deus, então as divisões de Seu ensino ético serão (1) as Bênçãos do Reino, (2) o Caráter dos Sujeitos, (3) os Mandamentos do Rei.

1. As Bênçãos do Reino:

(1) Natureza do Reino.

“O Reino de Deus” não foi uma frase inventada por Jesus. Foi usada antes Dele pelo Batista. Sua fonte próxima, tanto para Jesus quanto para João, foi o profeta Daniel, que a usa em passagens muito marcantes (2:44,4 – 7.13,14).

A ideia de um reino de Deus remonta ao início da monarquia em Israel, quando o profeta Samuel disse àqueles que exigiam um rei que Yahweh era seu rei e que não deveriam desejar outro. Ao longo de toda a história subsequente da monarquia, que foi, em geral, tão decepcionante para mentes patrióticas e piedosas, permaneceu a convicção de que, se Deus fosse rei, tudo estaria bem; e, quando finalmente o estado hebreu foi destruído e o povo levado ao cativeiro, os profetas ainda acreditavam que havia um futuro e uma esperança para seu país, se apenas Yahweh tomasse para Si Seu grande poder e reinasse.

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No período entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento, tais sentimentos prevaleceram tanto que Schurer compilou, a partir da literatura apócrifa, uma espécie de credo messiânico, abrangendo nada menos que onze artigos, que ele supõe ter prevalecido antes do Advento.

Pode ser duvidoso até que ponto tais crenças haviam tomado posse da mente geral. Muitos dos saduceus estavam satisfeitos demais com as coisas como eram para se preocuparem com tais sonhos. Mas os fariseus, sem dúvida, deram um grande lugar em suas mentes às expectativas messiânicas, e por essas os zelotes estavam prontos para lutar.

No entanto, é aos prosdechomenoi, como são chamados, porque estavam “esperando pela consolação de Israel”, que devemos olhar para a expressão mais pura dessa herança derivada da piedade do passado. Nos hinos no início dos Evangelhos de Mateus e Lucas, com os quais o nascimento de Jesus foi saudado, encontramos uma concepção intensa e elevada do reino de Deus; e, como o lar terrestre em que Jesus cresceu pertencia a essa seção seletiva da população, não há dúvida de que foi aqui que Ele absorveu tanto Suas ideias messiânicas quanto a fraseologia em que estas foram expressas.

Seu uso do termo, o reino de Deus, às vezes foi falado como uma acomodação às crenças e linguagem de Seus compatriotas. Mas era nativo Dele mesmo; e não é improvável que a própria frequência disso no círculo em que Ele cresceu o tornasse inconsciente da diferença entre sua própria concepção e a que prevalecia fora desse círculo.

Pois, assim que começou a pregar e a tornar conhecidos os sentimentos que incluía dentro dessa frase, tornou-se manifesto que Ele e Seus contemporâneos, sob um nome comum, estavam pensando em coisas totalmente diferentes.

Eles enfatizavam a primeira metade da frase–“o reino”; Ele a segunda–“de Deus.” Eles estavam pensando nos atributos externos de um reino–emancipação política, um exército, uma corte, províncias sujeitas; Ele na realização da vontade de Deus na terra como é feita no céu.

Até Ele sentiu, em um estágio, o fascínio do ponto de vista deles, como é manifesto no relato da Tentação no Deserto; mas Ele o rejeitou decisivamente, resolvendo não começar com uma estrutura externa em grande escala, para ser posteriormente preenchida com caráter, mas começar com o indivíduo e confiar no tempo e na Providência para o sucesso visível.

A entrada triunfal em Jerusalém prova que Ele nunca abandonou a reivindicação de ser o cumpridor de todas as previsões do Antigo Testamento sobre o reino de Deus; mas Seus inimigos interpretaram, não sem razão, o fracasso dessa tentativa como uma demonstração final de que sua própria visão estava correta o tempo todo.

Ainda assim, Deus não foi zombado, e Jesus não foi zombado. Quando, ao final de uma geração, o estado judeu afundou em ruínas e a cidade pela qual Jesus foi martirizado foi destruída, surgiram, em todo o mundo, comunidades cujos membros estavam mais unidos uns aos outros do que os membros de qualquer outro reino, obedeciam às mesmas leis e desfrutavam dos mesmos benefícios, que atribuíam a um Rei que governava nos céus, que apareceria novamente no grande trono branco, para ser o Juiz dos vivos e dos mortos.

(2) Bem-aventurança do Reino.

Os inimigos de Jesus podem ser ditos terem levado até o amargo fim sua concepção do reino de Deus, quando O pregaram numa árvore; mas, diante da oposição, Ele também levou a cabo Sua própria concepção, e nunca abandonou a prática de empregar essa frase como um termo abrangente para todas as bênçãos trazidas por Ele à humanidade.

Ele usou, no entanto, outra nomenclatura para os mesmos objetos, como Evangelho, Paz, Descanso, Vida, Vida Eterna, Bem-aventurança. Sua exposição desta última, no início do Sermão da Montanha, é altamente instrutiva.

Raramente, de fato, a estrutura das Bem-aventuranças foi claramente compreendida. Cada uma delas é uma equação, na qual “bem-aventurado” está de um lado e do outro dois magnitudes–uma contida no sujeito da sentença, como “os pobres de espírito”, “os mansos”, e assim por diante; e a outra contida em uma cláusula qualificadora introduzida por “porque”. Às vezes, uma dessas magnitudes pode ser uma quantidade negativa, como em “os que choram”; mas a outra é uma magnitude positiva tão grande que as duas juntas representam um belo positivo, que justifica plenamente o predicado “bem-aventurado”. É notável que a primeira e a oitava das razões introduzidas por “porque” sejam as mesmas:

“porque deles é o reino dos céus”, justificando a afirmação de que este é o próprio nome de Cristo para a bem-aventurança trazida por Ele ao mundo; e as sentenças entre essas, introduzidas da mesma maneira, podem ser vistas como explicativas dessa grande frase.

Elas abrangem conceitos tão grandes como conforto, misericórdia, a herança da terra, a visão de Deus e a filiação, que são certamente bênçãos do reino; e a lista não termina sem mencionar uma grande recompensa no céu–uma esperança imortal, que é a maior bênção de todas.

(3) Justiça–Seus Contrastes.

Se o pregador do Sermão da Montanha fosse expor detalhadamente algum desses brilhantes conceitos, poderia-se esperar que fosse o próprio reino de Deus; e isso nós desejaríamos. Mas aquele a quem essa honra foi concedida ainda precisa ser mencionado. É “justiça”.

Em uma das Bem-aventuranças, o orador prometeu que ser cheio dela seria parte da bem-aventurança que estava expondo; e, quando terminou as Bem-aventuranças, voltou a esse conceito e dedicou o resto de Seu discurso à sua interpretação.

Em nenhum outro lugar, nos relatos de Sua pregação que chegaram até nós, encontra-se uma exposição tão sustentada e completa. Não há melhor maneira de descrever uma coisa nova, com a qual aqueles que ouvem estão pouco familiarizados, do que contrastá-la com algo com o qual estão perfeitamente familiarizados; e esse foi o método adotado por Jesus.

Ele contrastou a justiça com a qual os súditos do reino seriam abençoados com a figura do homem justo familiar a eles, primeiro, nos discursos dos escribas, aos quais estavam acostumados a ouvir na sinagoga, e, segundo, no exemplo dos fariseus, aos quais costumavam olhar como padrões de justiça. É bem conhecido quantas oportunidades amplas Ele encontrou, por meio dessa disposição feliz, para sondar até as profundezas da moralidade, bem como para cobrir Seus oponentes de ridículo e explodir a honra em que estavam perante as massas.

Todo esse esquema, no entanto, é esgotado muito antes de o Sermão chegar ao fim; e a questão é se, na segunda metade do Sermão, Ele ainda mantém a exposição da justiça contrastando-a com o curso comum do mundo.

Estou inclinado a pensar que esse é o caso, e que a chave para a segunda metade do discurso é o contraste entre justiça e mundanismo. A doutrina, em todo caso, que emerge de toda a discussão é que a justiça prometida é distinguida por três características–interioridade, em contraste com a externalidade daqueles que acreditavam que a moralidade se estendia apenas a palavras e ações externas, e não aos pensamentos secretos do coração; segredo, em contraste com a ostentação daqueles que tocavam trombeta diante de si quando faziam suas esmolas; e naturalidade, como a da flor ou do fruto, que cresce espontaneamente de uma raiz saudável, sem forçar.

(4) Teorias Apocalípticas. Essa substituição da justiça pelo reino no maior discurso público que chegou até nós é uma indicação significativa da direção em que a mente de Jesus estava tendendo, à medida que se afastava das noções e esperanças do judaísmo contemporâneo. É evidente que Ele estava preenchendo a ideia do reino cada vez mais com conteúdos religiosos e morais, e esvaziando-o de elementos políticos e materiais.

Há estudiosos, de fato, atualmente, que sustentam que Sua concepção do reino era futurista, e que Ele estava esperando o tempo todo por uma manifestação apocalíptica, que nunca veio. Eles pensam que Ele estava esperando que os céus se abrissem e o reino descesse pronto à terra, como a Nova Jerusalém no Apocalipse.

Mas isso é assumir em relação a Jesus exatamente a atitude adotada em relação a Ele em Seu próprio tempo por fariseus e sumos sacerdotes, e degrada-O ao nível de um sonhador apocalíptico. Ignora muitas de Suas palavras, das quais a parábola do Grão de Mostarda pode ser tomada como exemplo, que provam que Ele antecipava para o cristianismo um longo desenvolvimento como o que realmente passou; e não faz justiça a muitas passagens em Seu ensino onde Ele fala do reino como já vindo.

Destas, a mais notável é onde Ele diz: “O reino de Deus está dentro de vós”–uma declaração precedida por uma rejeição clara da noção de uma manifestação apocalíptica; pois a palavra “observação”, que Ele emprega ao descrever a maneira como o reino não deve vir, é um termo astronômico, descrevendo precisamente tal fenômeno como Ele é suposto por estudiosos como John Weiss e Schweitzer estar esperando.

Quanto mais se tornava evidente que Ele não comandaria a homenagem da nação, mais Ele se dedicava à educação dos Doze, para que formassem o núcleo de Seu reino na terra; e certamente não era com visões apocalípticas que Ele alimentava suas mentes receptivas.

2. O Caráter dos Sujeitos do Reino:

(1) Condições de Entrada.

A justiça descrita tão amplamente no Sermão da Montanha não raramente é mencionada como a condição de entrada no reino de Deus; mas isso é completamente entender mal a mente de Jesus. A justiça descrita por Ele é o dom de Deus para aqueles que já estão dentro do reino; pois é a bênção suprema pela qual o reino deve ser buscado; e a condição imposta àqueles que estão fora não é a posse de justiça, mas sim um sentido profundo de sua falta.

Quanto mais sentirem a falta de justiça, mais prontos estarão para entrar no reino. Devem “ter fome e sede de justiça”. Já foi mencionado que a descrição, nas Bem-aventuranças, do caráter dos candidatos ao reino é às vezes de natureza negativa; e, de fato, essa é a conta no ensino de Jesus geralmente daqueles que Ele atrai para Si.

São atraídos por um senso de necessidade ilimitada em si mesmos e pela apreensão de uma plenitude equivalente Nele; Ele chama aqueles “que trabalham e estão sobrecarregados”, para que lhes dê descanso.

(2) Atitude de Cristo em Relação ao Pecado.

A primeira palavra da mensagem profética no Antigo Testamento sempre foi a denúncia do pecado; e só depois que isso tinha feito seu trabalho a visão de um bom tempo vindouro surgia no horizonte. O mesmo se repetiu na mensagem de João Batista; e não deixou de reaparecer no ensino de Jesus, embora Seu modo de tratar o assunto fosse inteiramente Seu.

Ele não, como os profetas, gastava muito tempo convictando pecadores grosseiros e abertos. Talvez Ele pensasse que isso já tinha sido suficientemente feito por Seus predecessores; ou, talvez Ele se abstivesse porque entendia a arte de fazer os pecadores se condenarem.

No entanto, na parábola do Filho Pródigo, Ele mostrou quão profundamente entendia a natureza e o curso dos pecados mais comuns. Se, no entanto, Ele poupava transgressores que não tinham cobertura para sua maldade, compensava essa leniência com o vigor e até violência com que atacava aqueles que escondiam seus pecados sob um manto de hipocrisia.

Nunca houve uma indignação profética como aquela com que Ele assaltou tais pecadores em Mateus 23 e Ele moldou as mesmas acusações em uma imagem inesquecível na parábola do Fariseu e do Publicano. Ele nunca nomeou os saduceus da mesma maneira irrestrita como designou seus antagonistas; mas em mais de uma parábola é possível que Ele os tivesse em vista.

O Juiz Injusto provavelmente era um saduceu; e assim era o Rico à porta do qual o mendigo Lázaro costumava sentar-se. O pecado dos saduceus, em todo caso, não escapou à Sua animadversão profética. Em Lucas especialmente, Ele alude com grande frequência ao mundanismo e ao amor ao dinheiro como cânceres pelos quais a vida da alma humana é corroída e seu destino destruído.

Assim, Jesus exerceu o ofício profético de denunciar todos os pecados de Seu tempo; e Ele mostrou o que, a esse respeito, pensava da humanidade em geral quando começou uma sentença com, “Se vós, sendo maus” (Lucas 11.13), e quando deu a terrível descrição do coração do homem que começa, “Do coração procedem maus pensamentos” (Mateus 15.19).

(3) Alcance da Justiça.

Para todos os estudantes sérios do Sermão da Montanha, é bem conhecido que a noção popular dele, como contendo uma religião simples e uma moralidade fácil, é totalmente equivocada; ao contrário, a justiça esboçada pelo Pregador é muito mais elevada do que qualquer outra concebida por qualquer outro mestre religioso.

No entanto, Ele não apenas propõe conduzir os seres humanos a uma plataforma de realização mais alta do que qualquer outra tentada antes, mas, ao mesmo tempo, reconhece que deve começar com homens mais baixos do que quase qualquer outro permitiu. É aqui que a ética de Jesus difere da dos filósofos.

Ele leva a tarefa muito mais a sério; e, como a ascensão de um extremo ao outro é muito mais longa, os meios de alcançar o objetivo são muito mais difíceis. Filósofos, assumindo que o homem é igual ao seu próprio destino, colocam as demandas da lei moral diante dele de imediato, presumindo que ele é capaz de cumpri-las; mas o caminho adotado por Jesus é mais remoto e humilhante.

Existem nele etapas ou estágios que, em Seu ensino, é fácil discernir.

(a) Arrependimento:

A primeira dessas etapas é o arrependimento. Esta era uma palavra de ordem de todos os profetas:

após o pecado ter sido denunciado, a penitência era chamada; e nenhuma esperança de melhoria era oferecida até que isso tivesse sido experimentado. Na mensagem de João Batista, ocupava o mesmo lugar; e, em um dos Evangelhos, é declarado expressamente que Jesus começou Seu ministério repetindo essa palavra de ordem de Seu predecessor.

Não poucas das cenas mais comoventes de Seu ministério terreno exibem penitentes a Seus pés, a mais tocante de todas sendo a da mulher que era “pecadora”; e, na parábola do Filho Pródigo, temos um retrato completo do processo de arrependimento.

(b) Fé:

O segundo passo é a fé–uma palavra de constante recorrência no ensino de Jesus. Em muitos casos, está conectada com Seu ministério de cura; mas isso era uma parábola de um ministério mais interior para a alma.

Em muitos casos, formava uma escola de preparação para o outro, como no caso do homem carregado por quatro, que foi levado a Cristo para a cura de seu corpo, mas foi presenteado, além disso, com o

“Sabeis que os príncipes dos gentios dominam sobre eles, e os grandes exercem autoridade sobre eles. Mas entre vós não será assim; mas quem quiser ser grande entre vós, seja vosso ministro; e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso servo.” Desta regra difícil, Ele pôde acrescentar, Ele mesmo havia dado, e ainda estava para dar, a mais perfeita ilustração; pois “o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20.25).

Isso nos lembra que, enquanto o caráter dos súditos do reino deve ser aprendido com as palavras de Jesus, também pode ser derivado de Seu exemplo. Aquilo que Ele exigia dos outros, Ele cumpria em Sua própria conduta; e assim os preceitos secos da lei moral foram investidos com o charme de uma personalidade viva.

Breves como são os registros de Sua vida, são maravilhosamente ricos em instrução desse tipo; e é possível, ao passar por eles com estudo e cuidado, formar uma imagem clara de como Ele se comportou em todos os departamentos da vida humana–no lar, no estado, na igreja, como amigo, na sociedade, como homem de oração, como estudante das Escrituras, como trabalhador, como sofredor, como filantropo, como ganhador de almas, como pregador, como professor, como polemista, e assim por diante.

Esta é a imitação moderna de Cristo–aquela dos detalhes de Sua existência terrena–a Imitação de Kempis foi uma imitação da história cósmica do Filho de Deus, enquanto Ele segue em Sua missão Divina do céu à cruz e de volta ao trono do universo.

3. Mandamentos do Rei:

Os Grandes Mandamentos.

De acordo com o uso das Escrituras, Jesus chamou de “mandamentos” aquelas ações que chamamos de “deveres”; e Ele facilitou esta parte do nosso assunto reduzindo os mandamentos a dois:

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.37-39).

Ele não inventou nenhum desses mandamentos; pois ambos ocorrem no Antigo Testamento (Deuteronômio 6.5; Levítico 19.18). Lá, no entanto, estão distantes e enterrados fora de vista. O segundo deles estava ainda mais profundamente enterrado sob uma má interpretação dos escribas, à qual se faz referência no Sermão da Montanha.

Jesus os resgatou do esquecimento; Ele mostrou a conexão vital e indissolúvel entre os sentimentos que eles impõem–amor a Deus e amor ao próximo–que haviam sido longamente e violentamente separados; e Ele os elevou ao firmamento da ética, para brilhar para sempre como o sol e a lua do dever.

(a) Amor a Deus:

Tem sido negado por alguns escritores sobre ética cristã que possa haver qualquer coisa como deveres para com Deus, e por escritores sobre ética filosófica o amor a Deus geralmente não é considerado dentro do escopo de sua ciência.

Mas o dever do homem está relacionado com todos os objetos, e especialmente todos os seres, com os quais ele se relaciona; e para Jesus o fluxo do coração do homem em direção Àquele que é o autor de seu ser e a fonte de todas as suas bênçãos parecia a mais natural das ações. “Amo o Senhor” era um sentimento ao qual a humanidade havia chegado até mesmo no Antigo Testamento (Salmos 116.1), onde corresponde a não poucas expressões do amor Divino igualmente fervorosas; e não é uma figura de linguagem quando Jesus exige amor para Seu Pai de coração e alma, força e mente.

O amor a Deus envolve, no entanto, amor pelo que pode ser chamado de Coisas de Deus, para as quais Jesus sempre manifestou ternura e honra. Aqueles que não são eclesiasticamente inclinados, de fato, tomaram como certo que Jesus

era indiferente, senão hostil, aos objetos e ações pelos quais o Todo-Poderoso é honrado; e muitas vezes se diz que o único serviço de Deus que importava aos Seus olhos era o serviço ao próximo. Mas, embora, como os profetas antes dEle, Jesus expusesse com reprovação devastadora a hipocrisia daqueles que colocavam o ritual no lugar da retidão, não é necessário mais do que um olhar sobre Suas palavras, e os outros registros de Sua vida, para perceber que Sua mente estava ocupada não menos com deveres para com Deus do que com deveres para com os homens; de fato, os primeiros ocupam maior espaço em Seus ensinamentos.

A única disposição religiosa com a qual Ele parece estar fora de simpatia é o sábado; mas isso se deveu a uma peculiaridade dos tempos; e é bastante concebível que em outras circunstâncias Ele pudesse ter sido um defensor fervoroso da observância do sábado.

Se houvesse em Seu tempo uma tentativa saduceia de roubar o povo do dia de descanso, Ele teria se oposto tão vigorosamente quanto fez à tentativa farisaica de torná-lo um fardo e um cansaço para o homem comum.

Ao declarar que o sábado foi feito para o homem (Marcos 2.27) Ele reconheceu que foi instituído no início e destinado para todo o curso da existência do homem na terra. Com as outras coisas de Deus, como Sua Casa, Sua Palavra e Seu Culto, Ele manifestou simpatia igualmente por palavra e ação; frequentava tanto o Templo quanto a sinagoga; tão imbuída estava Sua mente com a liturgia do Antigo Testamento que falava habitualmente em seu espírito e fraseologia, tendo suas figuras e incidentes perfeitamente à mão; e tanto por preceito quanto por exemplo Ele ensinou outros a orar.

Nada é mais comum do que a afirmação de que Jesus não teve nada a ver com a fundação da igreja ou a organização de sua política; mas isso é um preconceito subjetivo, cego para os fatos do caso. Jesus percebeu que o culto do Antigo Testamento estava passando, mas Ele próprio iria substituí-lo por uma ordem melhor.

Ele não apenas soprou no ar um espírito de doçura e luz; se isso fosse tudo o que Ele fez, o cristianismo logo teria desaparecido da terra; mas Ele providenciou canais nos quais, após Sua partida, Sua influência deveria fluir para gerações subsequentes.

Não só fundou a igreja, mas nomeou os detalhes mais importantes de sua organização, como a pregação e os sacramentos; e deixou os Doze atrás dEle não apenas como professores, mas como aqueles que poderiam instruir outros professores também.

Pode haver arranjos eclesiásticos que são trabalhados em um espírito muito distante do amor de Deus; e tais são, claro, contrários à mente de Cristo; mas o amor de Deus, se for forte, inevitavelmente transborda nas coisas de Deus, e não pode, de fato, existir permanentemente sem elas.

(b) Dever para com o Próximo:

Como foi sugerido acima, as palavras de nosso Senhor sobre os detalhes do dever para com o próximo são menos numerosas do que poderia ter sido esperado, mas o que pode faltar em número é compensado em originalidade e abrangência.

Muitas palavras isoladas, como a Regra de Ouro (Mateus 7.12) e a bela palavra sobre um copo de água fria dado em nome de Cristo (Mateus 10.42), são revolucionárias na experiência ética da humanidade; e assim são parábolas como o Bom Samaritano, o Filho Pródigo e o Servo Incompassivo.

O mandamento de amar os inimigos e perdoar as ofensas (Mateus 5.43-48), se não inteiramente novo, recebeu uma proeminência que nunca possuíra antes. O espírito de todas essas palavras de Jesus é o mesmo:

Ele busca redimir os homens do egoísmo e mundanismo e produzir neles uma paixão divina pelo bem-estar de seus semelhantes. Estes podem abençoar com presentes de dinheiro, onde tais sejam necessários, ainda mais com simpatia e ajuda, mas principalmente com o evangelho.

Além de tais direções quanto ao comportamento do homem para com o homem, há também entre as palavras de Jesus máximas memoráveis sobre a conduta da vida na família, no estado e na sociedade; e aqui novamente Ele ensinou mais pelo exemplo do que pelo preceito.

Como filho, irmão e amigo, Ele cumpriu toda a justiça; mas Ele também, como professor, determinou o que era justiça. Assim, Ele se opôs à laxidade quanto ao divórcio prevalente em Seu tempo, apontando de volta para o ideal puro do Paraíso.

Sua concepção de feminilidade e Sua ternura para com a infância alteraram completamente as concepções dos homens sobre essas duas condições. Ele era um patriota, glorificando-se na beleza de Sua Galileia natal e chorando sobre Jerusalém; e embora, do nascimento à morte, estivesse exposto à perseguição constante das autoridades constituídas, Ele não apenas obedeceu a elas, mas ordenou a todos os outros que fizessem o mesmo.

Nada o comovia mais do que a visão de talentos não utilizados, e, portanto, estava profundamente em Seu sistema de pensamento chamar a todos para contribuir com sua parte para o serviço do corpo político; mas não menos Ele reconhecia o direito daqueles que fizeram sua parte da tarefa geral de compartilhar os frutos da indústria; “pois o trabalhador é digno do seu salário” (Lucas 10.7).

Inestimáveis, no entanto, como são os mandamentos de Jesus em relação às coisas do homem, assim como em relação às coisas de Deus, não é neles que temos que buscar Sua originalidade ética, mas no novo motivo trazido à tona por Ele para fazer a vontade Divina, uma vez que tenha sido determinada.

Assim como Ele tornou fácil amar a Deus revelando o amor de Deus, Ele tornou fácil amar o próximo revelando a grandeza do homem, como uma criatura imortal, que veio de Deus e está indo para Deus. Tudo o que é feito ao homem, bom ou mau, Jesus considera como feito a Si mesmo; pois a grande palavra a esse respeito, no relato do Último Julgamento em Mateus 25 embora aplicável em primeiro lugar aos cristãos, pode ser estendida aos homens em geral.

O corolário da paternidade de Deus é a fraternidade dos homens; e o segundo grande mandamento está sob a proteção do primeiro.

II. No Quarto Evangelho.

1. Vida Eterna:

No Quarto Evangelho, a Vida Eterna ocupa o mesmo lugar que o reino de Deus nos outros três. O autor não desconhece que Jesus empregou esta última frase para o conjunto das bênçãos trazidas por Ele ao mundo; e já foi mencionado que os Sinópticos ocasionalmente empregam “vida” como equivalente para a frase que costumam usar.

A razão da preferência de João por sua própria frase pode ter residido em alguma idiossincrasia pessoal, ou pode ter sido devido ao ambiente gentílico em que escreveu. Mas a frase é sugestiva e instrutiva em si mesma no mais alto grau.

Já havia entrado profundamente na linguagem da religião antes do tempo de Cristo; de fato, em cada parte das Escrituras Sagradas, a ideia é comum de que a separação de Deus é morte, mas que a união com Ele é vida.

2. Sua Fonte em Deus:

Nos ensinamentos de Jesus, como encontrados em João, o mundo jaz na morte, porque se separou de Deus, e os filhos dos homens estão em perigo de perecer eternamente como punição por seu pecado; mas “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).

3. Através do Filho:

Esta vida está, primeiro, em Deus, que permanece em bem-aventurança eterna; mas não está, mesmo nEle, em repouso, mas agitada com um impulso de comunicar-se. Então, está no Filho–“Pois assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter vida em si mesmo” (João 5.26); não, porém, para Si mesmo apenas, mas com o propósito de ser comunicada àqueles destituídos dela.

Por essa razão Ele se fez carne e habitou entre nós; e Ele a comunicou através de Suas palavras, que eram “palavras de vida eterna.” As palavras de Jesus, ao trazerem vida, são a “luz” do mundo; e são a “verdade”–duas expressões favoritas deste Evangelho–ou Aquele de quem falam é Ele mesmo a luz e a verdade; Ele disse de Si mesmo, “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida.” Ele está em Sua palavra de tal forma que, quando é recebida no espírito certo, Ele entra na alma pessoalmente–“vós em mim, e eu em vós” (João 14.20).

Assim como o alimento é tomado no corpo, para sustentar a vida, assim Ele se torna a vida da alma; Ele é o “pão da vida” e a “água da vida” (João 6.35). Assim como, no entanto, o pão precisa ser partido antes de ser comido, e a água precisa ser derramada quando é bebida, assim a virtude que está no Filho de Deus só se torna disponível através de Sua morte–“Eu sou o pão vivo que desceu do céu:

se alguém comer deste pão, viverá para sempre; sim, e o pão que eu darei é a minha carne, pela vida do mundo” (João 6.51).

4. Necessidade de Novo Nascimento:

O mundo jaze morto no pecado, um novo nascimento é necessário para aqueles que vão entrar na vida; e isso é necessário mesmo para um caráter tão refinado como Nicodemos (João 3.3,5,7). Sem essa mudança, os filhos dos homens são insensíveis às revelações Divinas; e mesmo os filhos do privilégio, que desfrutaram da revelação do Antigo Testamento, eram indiferentes à vida eterna, quando ela se aproximava deles na pessoa de Cristo.

Portanto, era necessária uma atração especial por parte de Deus para despertar a alma adormecida–“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair” (João 6.44); e, onde essa influência não era respondida, poderia haver a mais violenta e persistente oposição a Cristo por parte daqueles que acreditavam ser os favoritos do céu.

O novo nascimento é acompanhado de visão espiritual–“vendo o reino de Deus” (João 3.3)–e, ao longo do Quarto Evangelho, é dada notável ênfase à virtude de tal ver ou conhecer. Leva tão diretamente à fé que “conhecer” e “crer” são virtualmente o mesmo ato (João 10.38).

A fé é a recepção na alma da vida eterna, ou Daquele que foi discernido pela visão espiritual e que é Ele mesmo a vida. É o comer do pão da vida, o beber da água da vida, e faz e mantém vivo.

5. Natureza da Fé:

Como a fé é, assim, o meio pelo qual a vida eterna se torna uma posse pessoal, é a única coisa necessária e o resumo de todos os mandamentos–“Esta é a obra de Deus, que creiais naquele que ele enviou” (João 6.29). É o mandamento único, compreendendo todos os mandamentos, e “opera pelo amor” para o cumprimento de todos eles.

O que estes são, no entanto, é menos desenvolvido em detalhe neste Evangelho do que nos outros, pois é uma peculiaridade da mente de Jesus, conforme registrado por João, lidar com princípios centrais e assumir que as consequências seguirão como uma questão de curso.

Da organização, por exemplo, da comunidade que deveria perpetuar Sua influência, depois que Ele deixou o mundo, Ele diz muito menos neste Evangelho do que mesmo nos Sinópticos; ainda assim, Ele caracteriza a própria essência do novo corpo em palavras como estas, “Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade; para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, assim como amaste a mim” (João 17.23).

Na última metade desta frase há uma dica da influência a ser exercida sobre o mundo exterior pela exibição do caráter cristão, com o resultado de produzir crença; mas este objetivo deveria ser buscado mais diretamente através do testemunho (João 15.27) e da “palavra” dos discípulos (João 17.20).

Assim seriam trazidos mesmo os distantes, “que não são deste aprisco,” para que houvesse “um rebanho” e “um pastor” (João 10.16). Dentro do aprisco é o maior privilégio e honra, assim como responsabilidade, alimentar as “ovelhas” e alimentar os “cordeiros” (João 21.15,16,17).

6. Frutos da União com Cristo:

Caráter e conduta são, mesmo para os discípulos de Cristo, “mandamentos,” como, de fato, Jesus não desdenha falar das várias partes de Sua própria vocação pelo mesmo nome humilde, implicando a necessidade de esforço moral e a tentação ao fracasso (João 15.10).

Portanto, também são assuntos próprios para oração. Ele orou pelos discípulos, tanto para que fossem guardados do mal no mundo quanto para que fossem santificados pela verdade (João 17.15,17), e sem dúvida esperava que eles pedissem as mesmas coisas para si mesmos, pois a vida deles deveria ser uma vida de oração (João 16.24).

Mas, em última instância, são os frutos da união com Ele, e a vida eterna não é meramente um dom do futuro, a ser dado na morte do corpo, mas é desfrutada mesmo agora por aqueles que permanecem na videira.

LITERATURA.

Monografias sobre a ética de Jesus em alemão por Grimm

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